segunda-feira, 10 de março de 2008

Ausência: post zangado em franca remissão


Parece que abandonei tudo... Até o blogue.

Estive submersa em papéis e processos, fui submetida à "Avaliação Final do Estágio de Carreira de Técnico Superior de Saúde-ramo de Psicologia Clínica". ???? O que é isso????

Resumindo (muito resumidinho, e bem na rama, que a questão é complexa) é um estágio profissionalizante, supostamente semelhante ao internato médico, que qualifica e confere o grau de especialista em Psicologia Clínica, condição para exercer como Psicólogo/a clínico/a na Saúde.
Quem faz este estágio? Quem entra por concurso público, submetendo-se a avaliação curricular e entrevista de selecção.

O que é suposto fazer-se? Formação teórico-prática na área da psicologia clínica em diferentes contextos de Saúde, sob supervisão e avaliação de outro/as psicólogo/as já especialistas que exerçam no SNS.

Quanto tempo? Três anos, mais dois de prorrogação de contrato.

Qual o vencimento? O de estagiário da carreira (o mais baixo).

Quem paga? Os contribuintes.

Qual o interesse? À partida formar profissionais, mas uma vez que estes após a formação vão quase todos ficar desempregados, deve haver vários outros interesses, um deles é ter durante cinco anos profissionais já bem qualificado/as a ganhar o menos possível exercendo inúmeras tarefas (avaliação, intervenção, investigação, humanização, formação). Às/Aos estagiário/as interessa ter um contrato durante 3 anos de formação, mais os 2 anos de prorrogação, enquanto diversificam a sua formação.
No fim, para que serve? Na prática para nada. Têm sido abertos concursos para contratar psicólogo/as com contratos precários, sem que lhes seja exigida outra qualificação que não a licenciatura em psicologia (coisa rara, como se sabe). Outros critérios têm sido aplicados na selecção deste/as colegas, com certeza muito/as dele/as bem preparado/as, mas esses critérios não são conhecidos. O/As especialistas cuja qualificação prévia foi reconhecida ao ser seleccionado/as para integrar o estágio e cuja formação subsequente foi paga por todos, ficam desempregado/as ou, raramente, são contratado/as nas mesmas condições que qualquer outro/a colega que não tenha qualificação específica e que não tenha sido submetido/a a nenhuma avaliação pública pelos pares. Esta situação levou a uma tomada de posição da APOP.

Porque é que isto acontece? Por diferentes motivos: por não existir Ordem dos Psicólogos (há anos à espera...); por sermos uma classe dividida e clivada; porque se quer uma Saúde economicista, em que a qualidade técnica dos funcionários é um factor menor; porque a Saúde Mental é mal-tratada e estigmatizada, embora os discursos oficiais sejam recheados de belas palavras- "inserção"; "integração"; desinstitucionalização... (integração precária do/as mais barato/as e muitas vezes menos qualificado/as e desinstitucionalização do/as profissionais qualificado/as).
Quem fica mal servido/a? O/As utentes, as equipas, os serviços.
Quem se cala? Quase todos.

E por isto tudo ando sem paciência a digerir a bílis. Sim, ando biliosa. Bílis amarela.
Sr. Galeno, uma purga rápido. Pode vir em modo "Sweeney Todd", mas quero ser eu a erguer a navalha! Prometo ser selectiva.
;-)
Entretanto, vou ali , a Marta hoje lança o seu novo livro: Sexo com Prazer. Às 18h30.

2 comentários:

Isabel Freire disse...

Patrícia, o cone que a menina leva na mão, está cheio de doces, e hoje é o primeiro dia de aulas, na escola primária. É provável que saibas, pois é uma tradição alemã (não sei se nórdica).
A ideia é muito boa. E o cone é gigante. Uma nota de esperança.
O teu texto fala do outro lado da moeda. Ou seja, a certa altura viramos o cone ao contrário e o que lá está dentro é amargo.
Depois da bílis, da fúria, da denúncia e da reclamação... é hora de voltar a enchê-lo (estarei eu a dar uma de psicóloga não credenciada)?
Um grande beijinho
Ifa

Patrícia Pascoal disse...

lol
essa da "não credenciada" foi muito acutilante, dado o teor do meu post. há de facto muita gente competente sem credenciais, por isso se criaram as novas oportunidades...(desculpa este perfume de ironia e sarcasmo não me larga... tresando!)
sim, passo a vida a encher cones, não tinha a vida suspensa à conta deste cone específico.
olha, como sabes até me demiti!
a foto simboliza isso mesmo: partir para outro processo de aprendizagem estruturada!
;-)
gostei de estar contigo ontem, mesmo que de fugida!
um beijinho